Rumo à Terra Prometida.
A subjetividade de um povo.
Com os contornos épicos intensificados, mais uma vez Sátántangó se aproxima dos motivos bíblicos, agora no êxodo, na jornada por uma esperança de paz, terra onde o leite e o mel não carreguem do veneno.
O amor, mais uma vez não vimos.
Irimiás, ainda o porta-voz de uma verdade superior.
E atravessar o deserto pode ser a única saída.
É indiscutível a força com que as caminhadas de Béla Tarr marcaram o cinema contemporâneo, em cada progressão, a cada passo desbravado, os seres de seu universo parecem sempre estar seguindo a algum lugar inalcançado, mas certo de existência, não se explora o poder da dúvida, da errância, pois o horizonte é uma das constantes mais vistas em seus mundos, e contrariando as expectativas do tempo em jogo, a certeza do porvir é o que movimenta cada peça do tabuleiro.
Pão e vinho compartilhados numa garrafa, já não há armários que possam ameaçar o destino.
Mas chegar do outro lado, deparar-se com o desconhecido, é o milagre que não se pode provar em paz.
Chamada de Fazenda, a nova terra restaura as condições do instinto, evidencia a tênue distinção que separa o homem do bicho, obriga-os a um aprofundamento na escuridão, à falta de luz.
Altera-se o passo da dança.
E pela última vez, a fé é provada.